terça-feira, 15 de junho de 2010

O sujeito é uma esfinge!

Nos movimentos ativistas por reconhecimento e nas pesquisas sobre comunicação de massa, cultura popular, indústria cultural, cotidiano e recepção a busca pelo sujeito da comunicação sempre aparece, direto ou indiretamente, ligados às práticas de consumo, às manifestações artísticas e culturais, como também à cidadania e aos movimentos sociais.
Descobrir o sujeito da comunicação a partir da influência (manipulação?) dos meios de comunicação sobre as pessoas, os efeitos a curto ou a longo prazo da comunicação midiática bem como as resistências, as rejeições e as negociações ocorridas é o problema em destaque nas pesquisas comunicacionais, nas pesquisas de consumo, nas de audiência e nas eleitorais. Quem é esta esfinge chamada receptor?
O cenário dessas pesquisas é a sociedade moderna, capitalista, urbana e industrializada. À medida que essa sociedade fordista e pós-fordista se fortalece em grandes centros urbanos e industriais, regida pela lógica do capitalismo e seu principal braço a democracia, surge a figura que se tornará cada vez mais central nas esferas da comunicação e da cultura, o consumidor. Toda a produção de conhecimento, saber e informações geradas começam a recobrir a realidade social e cultural das práticas de consumo que já irão aparecer como práticas econômicas e políticas e, posteriormente, como práticas de cidadania e comunicacionais.
O consumo, mais do que uma relação de compra e venda de mercadorias, vai sendo concebido como espaço de negociação de modas, comportamentos e estilos de vida. Aos poucos, comprar deixa de significar apenas possuir bens materiais para a sobrevivência física e manutenção da vida. Ainda que participar do pleito eleitoral não seja mais do que votar a cada dois anos.
Os meios de comunicação tornam-se palco de produção e reflexão de outras necessidades – as espirituais e simbólicas – transformando a compra de mercadorias em posse de informação, imagens, fantasias e sonhos, tornando o consumidor alguém seguro e pertencente a um grupo.
O consumo de uma ideia, de um valor, de um produto, de um serviço ou de um time de futebol ou também de um candidato aparece, então, como mediação necessária para se projetar e desenvolver políticas públicas como mecanismos de inclusão e fortalecimento da cidadania, principalmente, em sociedades democráticas com problemas de inclusão social.
Se o consumo pode ser entendido como uma prática de pertencimento, ou de reconhecimento, um dispositivo (diria Foucault, 1984) ou, um elemento presente na esfera do mundo da vida (Habermas, 2004), sem dúvida, o termo não passou desapercebido nos estudos de comunicação.
O grande problema hoje que se coloca é como pensar a relação e as práticas de consumo mediados pelos emergentes e dominantes meios de comunicação nem tão massivos, mas sempre abrangentes e cada vez mais patrocinados por redes sociais ainda indecifráveis.
Hoje pesquisar comunicação social requer sair da dicotomia manipulação-influência e compreender que o sujeito da comunicação tem se apresentado na conjunção de fatores movidos por circunstâncias sociais seja a favor da democracia, seja a favor do capitalismo, seja, enfim, a favor de si mesmo.

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