domingo, 13 de setembro de 2009

Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir?!

"Dora Maar au Chat", Pablo Picasso
“A dominação dos homens sobre as mulheres e o direito masculino de acesso sexual regular a elas estão em questão na formulação do pacto original. O contrato social é uma história de liberdade; o contrato sexual é uma história de sujeição. O contrato original cria ambas, a liberdade e a dominação. (...) A liberdade civil não é universal – é um atributo masculino e depende do direito patriarcal”.
Com essas palavras, Carole Pateman apresenta com grande força persuasiva a obra O Contrato Sexual. Segundo a autora, o contrato sexual é a parte da história não revelada, pois toda liberdade civil é uma liberdade civil patriarcal fundada na dominação masculina sobre a feminina. Uma vez que a sociedade civil é constituída por duas esferas, apenas a esfera pública tornou-se objeto de estudo, já que a outra, a privada, não sendo encarada como politicamente relevante – como o casamento e o contrato matrimonial permaneceu escondida.
Rousseau (1712-1778), em O Contrato Social, expõe “O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e pode alcançar; o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo que possui”. "Seguir o impulso de alguém é escravidão, mas obedecer uma lei auto-imposta é liberdade". A liberdade, dessa forma, é um direito e um dever ao mesmo tempo. A liberdade pertence ao homem (nao a mulher, no raciocíonio de Pateman) e renunciar a ela é renunciar à própria qualidade de homem. Nesse sentido, uma de suas conhecidas idéias, a do “homem bom” ou do “bom selvagem”, que vivia no estado natural e depois corrompido pela sociedade, num certo sentido parte de uma contradição, já que a sociedade é justamente formada por esses mesmos “homens bons”. (Paul Gauggin, Nave Moe, ao lado)
Rousseau, lembra a autora, apesar de não defender a escravidão, como o fez Aristóteles, acreditava que uma esposa infiel dissolve a família e quebra todos os laços naturais. Ao dar ao homem um filho que não seja seu, ela trai a ambos: alia a perfídia à infidelidade. A pesquisa de Pateman, sobre o contrato sexual, me fez lembrar Robert Stan, em Crítica da imagem eurocêntrica, quando este aponta que os filósofos europeus tinham ideias bem antiesclarecidas. Vejamos. John Locke (1632-1704) dizia que os indígenas deveriam ser classificados como as crianças, os idiotas e os ignorantes. Já para David Hume (1711-1776) os negros eram naturalmente inferiores aos brancos. Karl Marx (1818-1883) afirmava que as sociedades pré-capitalistas viviam em uma temporalidade histórica condenada e estavam destinadas a desaparecer diante do capitalismo e Comte pensava a história humana desenvolvia em estágios universais e previsíveis. Enquanto que Immanuel Kant (1724-1804) duvidava da capacidade intelectual dos negros e George W. F. Hegel (1770-1831), que nada saiba da África, argumentava que aquele continente nos forçava a abandonar a própria categoria de universalidade “A África não faz parte da história do mundo...” Ou seja, a julgar pelo “pensamento clássico” está na hora de aprofundar uma revisão mais ampla da história oficial, principalmente Ocidental. Como finaliza Carole “Os homens que, supostamente, fazem o contrato original, são homens brancos, e seu pacto fraterno tem três aspectos: o contrato social, o contrato sexual e o contrato da escravidão, que legitima o domínio dos brancos sobre os negros”. De outro modo: Homem Público! mulher pública?
Como feiúra em virtude não é vantagem, é defeito, aconselho reler novamente os "clássicos literários" Iracema, A Escrava Isaura e A hora da estrela para não ter dúvida das mentiras que ainda nos pregam. Assim, entenderemos melhor Caetano... “Você diz a verdade, a verdade é o seu dom de iludir, como pode querer que a mulher vá viver sem mentir...”.

3 comentários:

  1. Muito dos problemas sociais e de relações que fazem parte da nossa história, são fruto de um pensamento insipiente e preconceituoso. Forjado muitas vezes por pessoas que se querem ter o controle ou têm medo de perder esse mesmo. Acho que qualquer comentario a cerca disso dever ser muito estudado para ser entendido. A questão é que as mulheres não ficam atrás em nada dos homens, o que deve realmente ficar para traz é a ignorancia e a falta de visão de alguns.

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  2. do meu ponto de vista o problema maior é que muitas pessoas ouvem outra falar "mais bonito" e a aclamam como melhores, mais inteligentes, superiores e "mais evoluídos" e com isso param de pensar, literalmente, ficam estagnadas onde estão, a maioria dessas pessoas seguem um pensamento positivista sem nem saber, por isso existe essa ignorância generalizada..

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