domingo, 6 de setembro de 2009

Para não esquecer a independência - o atualíssimo Maquiavel


O Príncipe – Nicolau Maquiavel (1513-1516)
A arte da política
De Ângela Ro Rô a Stálin, passando por Napoleão Bonaparte, Delfim Neto, FHC, Collor e uma série de políticos. Todos estes são ou foram unânimes em afirmar que tiveram um dia o livro "O Príncipe", do filósofo de Florença, Nicolau Maquiavel (1469-1527), como livro de cabeceira. No caso de Collor, sua esposa na época, Rosane Collor (por onde anda?) cuidou de dizer que o presidente era seguidor das ideias maquiavélicas. Quis fazer uma homenagem ao marido... Enfim, esta é a obra mais famosa do autor que tenta ensinar como tomar e se manter no poder. Aliás, bem útil nos dias de hoje.
Publicada postumamente em 1532 este é considerado um dos tratados mais influentes no posterior desenvolvimento da teoria ou ciência política. Redigido em 1513, só foi publicado, cinco anos após a morte do autor. Além do interesse histórico, constitui um instigante exemplo da prosa escrita italiana do século XVI. Já Maquiavel, consequentemente, é considerado o 'pai' da ciência política, e seus textos são estudados e analisados em escolas e universidades de todo o mundo.
Nasceu numa Itália dividida em pequenos Estados conflitantes entre si, o que os tornavam vulneráveis aos ataques de conquistadores estrangeiros. "A obra foi escrita no exílio forçado quando privado de sua posição de funcionário da república de Florença". Além disso a obra é um marco da Ciência Social que instaura uma nova ordem de conduta em que as ações e instituições políticas são julgadas sem um recurso moral, isto é, religioso. Maquiavel propõe a libertação do Estado dos mandamentos da Igreja ao estabelecer o modelo da Roma republicana, ou seja, um triunfo da razão do Estado.
A obra reflete seus conhecimentos da arte política dos antigos, bem como dos estadistas de seu tempo, e expressa claramente a mentalidade da época. Formulando uma série de conselhos ao príncipe, o autor expôs uma norma de ação autoritária, no interesse do Estado. Deste modo, Maquiavel ilustrou a política renascentista de constituição de Estados fortes, com a superação da fragmentação do poder, que caracterizara a idade média, bem como na pauta do pensamento Ocidental as bases políticas da Modernidade.
Composto por uma dedicatória a Lourenço de Médici (imagem ao lado) e 26 capítulos que utilizam exemplos históricos de alternância de poder da época em que viveu o autor, o livro nos oferece com nitidez os conselhos para o sucesso político que, com certeza, tem sido muito útil no Senado. Assim, o objeto é o Estado real, capaz de impor a ordem dentro da ordem efetiva dos fatos. Maquiavel lança seu olhar para a realidade, sobre a qual se deve trabalhar para transformar.
Ao longo de 26 capítulos Maquiavel define as características de um príncipe, entendida essa figura como a cabeça ou chefe do Estado. Apesar de na essência constituir um estudo a respeito da organização estatal, Maquiavel chegou a pensar inicialmente no título O principado. As teses desenvolvidas fizeram com que prevalecesse a identificação dos conceitos Estado e príncipe, na medida que existe entre ambos uma certa relação de subordinação, privilegiando o alto dignatário antes que a entidade política. Essa é a principal idéia postulada na obra: deve ser o príncipe que, com sua atuação, modela a essência de seu principado.
Sua posição em relação à natureza humana é contundente: os homens são ingratos, volúveis e ávidos por lucro (Cap. XVIII), e o conflito, é inerente à política, assim faz-se necessário, custe o que custar, uma "ordem instaurar". Ele aponta a presença na sociedade de duas forças opostas: uma que quer dominar e a outra que não quer ser dominada (Cap. IX). Assim, neste contexto, o político deve impor a estabilidade das relações e a correlação das forças. E agir, produzindo os efeitos que levarão a uma reação do adversário mas o objetivo é sempre a vitória.
Governante, para ele, não é o mais forte é aquele que considera que os fins justificam os meios, é aquele que mantém o domínio adquirido e, para seu próprio bem - ou bens - o respeito dos governados. Para ele o horizonte ético inexiste pois um príncipe prudente não pode, nem deve, manter a palavra dada quando lher for prejudicial e as razões que o fizeram dar a palavra não mais existirem.
Não é à toa que o adjetivo "maquiavélico" tornou-se equivalente a diabólico já que o autor apregoa que o príncipe deve "parecer" clemente, leal, humano, íntegro, religioso e deve sê-lo. Mas deve estar com o espírito pronto para que, "precisando não ter essas qualidades", possa a saiba assumir o contrário. É dele também a máxima que norteia nosso atual marketing político, que os príncipes devem deixar que outros administrem as decisões impopulares, mantendo para si os atos de graça.
Mas nada se compara às orientações dadas no XXV capítulo quando se analisa o quanto que uma herança e uma fortuna podem auxiliar no exercício do poder: "É melhor ser impetuoso do que cauteloso; porque a sorte é mulher e é necessário, para subjulgá-la, espancá-la e surrá-la”. Em suma, com certeza, na mesa de cabeceira da Simone de Bouvair, tal exemplar só esteve por engano. Diário de Princesa, nem por engano...

3 comentários:

  1. poxa vida, mas Rosane Collor é um poço de inteligência sem fim.. heheheheh

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  2. Em uma parte eu sou de acordo com o texto de Maquiavél, quando ele fala que devemos manter o estado separado dos mandamentos da igreja, pois caso contrário (como é hoje) a igreja acaba mandando nas leis do próprio estado.

    Com certeza os Grileiros, gestores públicos, legisladores e empresários da comunicação citados no texto "Em defesa dos direitos da população negra" leram e seguem muito os ditos de maquiavél..imprestáveis..

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  3. Aposto que, você como professor já se perguntou et an sit melius amari quam timeri, vel e contra.

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